Charles Chelala*
A semana que passou foi marcada por dois fatos históricos no cenário internacional: o discurso do presidente Barack Obama no Egito e o retorno de Cuba à Organização dos Estados Americanos – OEA.
O pronunciamento do presidente dos EUA pode ser considerado como um marco, por redefinir a política da maior potência mundial em relação ao Oriente Médio, que abandona o modelo de Reagan e da família Bush (pai e filho), do qual Clinton não conseguiu se libertar. Em outras palavras, trata-se do fim de expressões como “império do mal” e do preconceito impingido a todos que falassem árabe ou professassem a fé islâmica.
Ao afirmar que os objetivos dos EUA e do Islã são coincidentes e que os palestinos têm direito ao território, classificando como “ocupação” os assentamentos israelenses, Obama não apenas cumpre sua promessa de campanha como, pelo menos na retórica, dá uma guinada de 180 graus na política anterior.
Como parâmetro para a importância do momento, basta ver as reações negativas dos radicais sionistas e dos extremistas islâmicos, contrapostas aos aplausos dos judeus e muçulmanos de boa índole.
A mudança de rumo não trará mudanças práticas imediatas, mas acena com a possibilidade de construção de uma paz duradoura na região.
O outro assunto é a correção de uma injustiça, não só contra Cuba, mas contra todo o continente americano, removendo o último entulho da guerra fria. A expulsão de Cuba em 1962 da OEA foi descrita pelo compositor cubano Pablo Milanês como “realizaram a tarefa de desunir nossas mãos e apesar sermos irmãos, nos víamos com temor, parecíamos estranhos”. Saliente-se que o Brasil cumpriu o papel de vanguarda nas negociações que culminaram com o processo de reintegração de Cuba no organismo.
Tal qual na questão palestina, também neste caso ficaram insatisfeitos os de extrema direita, que defendiam a exclusão de Cuba e os esquerdistas, que sonhavam com a OEA pedindo “desculpas” a Fidel pelos anos de ostracismo.
Os dois episódios remetem novamente a Pablo, com o trecho: “a história conduz o seu carro e passará por cima daquele que queira negá-la”.
*Economista e professor