O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que a equipe econômica o meteu numa enrascada política. Não previu que a queda dos juros básicos exigiria mudança na rentabilidade da caderneta de poupança --expediente sagrado e consagrado dos mais pobres para economizar.
Lula chora o leite derramado, segundo relato de auxiliares que discutiram o assunto com ele nos últimos dois meses. O presidente avalia que os integrantes do CMN (Conselho Monetário Nacional) dormiram no ponto. São eles os ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Planejamento, Paulo Bernardo, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que também tem status de ministro.
Se a taxa básica de juros, a Selic, cair para menos de 9% ao ano, a caderneta de poupança deverá render mais do os tradicionais fundos de investimentos, procurados pelas classes alta e média. Hoje, a Selic está em 11,25% ao ano.
O rendimento da poupança é previsto em lei: 6% ao ano mais a variação da TR (Taxa referencial), isentos de impostos. Os fundos são remunerados com base nos juros de mercado e são tributados.
O governo deseja evitar uma migração maciça para a poupança, o que esvaziaria os fundos, fundamentais para a rolagem da dívida pública. A rentabilidade da grande maioria deles tem a ver com os títulos públicos.
Se o CMN tivesse sido previdente, Lula acha que poderia ter sido apresentada no ano passado uma alteração no cálculo de rendimento da poupança dentro de um pacote de modificações da herança de indexação da economia. Ou seja, seria um detalhe num plano maior.
Agora, mudar a poupança soará a uma tungada nos mais pobres. Ou seja, ganharam menos a vida toda em nome da segurança, mas, quando poderiam ganhar mais, a poupança deverá mudar.
Isso é um problema e tanto para quem deseja vitaminar a potencial candidatura ao Palácio do Planalto da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Folha Online