terça-feira, 21 de abril de 2009

Novela das Passagens da Câmara

Antecipando-se às mudanças que a Câmara planeja adotar, o deputado Fernando Coruja (SC), líder do PPS, decidiu se autoregular.

No ranking dos líderes que se serviram da cota de passagens para voar ao exterior com a família, Coruja ocupa o segundo lugar.

Autorizou a emissão de 19 bilhetes. Foi a Paris com a mulher, Cristina, e os filhos, Guilherme e Fernanda.

De resto, cedeu bilhetes a seis pessoas estranhas ao exercício do seu mandato. Passagens para Paris e Miami.

Com a porta arrombada, Coruja decidiu se autoimpor um ferrolho. Anuncia que, doravante, só emitirá bilhetes para uso próprio.

Nada de novas viagens ao estrangeiro: “Só vou utilizar os bilhetes para meus deslocamentos entre Brasília e Santa Catarina”.

Coruja não cogita devolver à Viúva o dinheiro que pagou os vôos internacionais já realizados. Mas anuncia uma segunda deliberação.

Devolverá à Câmara toda a “sobra” da cota de passagens não utilizada durante o mês. Vale para as “sobras” de meses pretéritos e as dos meses por vir.

Mandou levantar o estoque de bilhetes do passado. De resto, informa: "Ao final do mês, tudo que não usei vou devolver para a Câmara".

Embora chegue com atraso, a decisão de Coruja evidencia o óbvio: os congressistas não precisam de regras novas para homenagear a lógica e o contribuinte.

Em nota que que fez divulgar nesta segunda (20), o presidente da Câmara admitiu que “deputados, inclusive ele próprio, destinaram parte dessa cota [de passagens] a familiares e terceiros”.

No texto, atribuiu a anomalia à inexistência de “regras claras, definindo os limites”. É Lorota. O problema não está na excassez de regras, mas no excesso de imaginação.

Só uma mente demasiado imaginativa poderia supor que haveria como justificar o pagamento de viagens de turismo –aqui e alhures— com verbas da Viúva.

O mérito do gesto tardio de Coruja está na revelação de que, quando quer, um deputado pode portar-se com decência. A despeito das regras. Ou apesar da ausência delas.

Escrito por Josias de Souza