quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A última carta

Macapá, 27 de outubro de 2008

Compadre Nolasco,

O negócio aqui ficou ruim por aqui. Veio uma grande onda azul que atravessou a cidade e o repiquete dela voltou com beira pras ilhas do Bailique. Nem queira saber. As forças democráticas da terra deram “um jeito” tão forte e tão grande que entortou “de virada” nossos planos de fazer o Camilo prefeito.
Ô, meu compadre Nolasco, que pena! Nós falamos tanto do Roberto, inventamos um monte de mentiras e boatos, jogamos diabinhos nas ruas, mas o povo não acreditou. Olha que “depois que o caldo cai no chão nem língua de cachorro ajunta”, já dizia o velho Zuza, lá do Canal do Jandiá.
O pessoal fala que a gente comprava voto. Mas quando já! Esse negócio já deu até cassação de mandato, pois descobriram que a grana estava na casa de um totó, lá no Igarapé das Mulheres, lembras?
Compadre Nolasco. Perdi toda a esperança no meu partido, que agora está mais amarelo do que antes. Parece até malária. Estamos fracos, fraquinhos mesmo. Não consigo nem mais levantar a caneta para lhe escrever esta carta. A dor que sinto é tão grande que tenho até preguiça de ir à rua onde o povo ri à toa, como se fosse rico, tanta é a satisfação de ter ganhado a eleição.
Também pudera, compadre. Esse pessoal do Capi só quer ser o que a folhinha não marca. Não ouvem ninguém, acham que sabem tudo e querem porque querem mandar em tudo e em todos. Cadê a democracia? O PSB está mais pra ditadura, onde estão sentados o Camilo e o Randolfe, chorando abraçadinhos. Eles ficaram na base do “já ganhou” enquanto o Roberto e a Helena foram pra guerra pedir votos e inverter o resultado do 1º turno. Perdemos feio e depois os chefes da campanha vieram com o papo de “Ah, porque não-sei-o-quê...”. Ta, jacaré!
Compadre Nolasco. Vou terminar esta missiva porque já to invocado com esses Capiberibes. Eles me prometeram um emprego no Correio porque eu escrevo muito bem uma carta. E agora, ó! Só no toba.
Compadre Nolasco. Eu acho que vou é vestir azul e colocar uma peruca pra ver se arranjo uma casquinha na Zeladoria Urbana do Roberto no ano que vem, nem que seja de gari, pois com um boné o sol não vai queimar a minha careca. Eu vou tomar uma lá no Abreu onde ninguém vai encher o meu saco. Adeus compadre. Pra nunca mais.

Seu compadre Ohnid Ojuara