Foi anunciada a ordem de serviço para a construção da ponte binacional sobre o rio Oiapoque, unindo por via terrestre o Amapá à Guiana Francesa, vale dizer, integrando a única fronteira entre o Brasil e a União Europeia. Alguns aspectos me parecem relevantes nesta obra.
O primeiro ponto que chama a atenção é o fato de ser um dos poucos projetos que transcende a um governo, pois a construção desta aliança transfronteiriça começou na segunda metade da década de1990, tendo tido que enfrentar diversos percalços, entre eles a burocracia do Itamaraty, que ainda via a Guiana como uma espécie de colônia da França. Tal fenômeno é significativo, pois vivemos uma época em que todos os governantes sofrem de “síndrome de Adão e Eva”, como se nada tivesse ocorrido antes deles...
No bojo das conversações deste acordo, do qual a ponte é apenas a parte mais visível, mas que também envolve cooperação técnica e científica, ações ambientais, abertura comercial, entre outros, já vieram ao Amapá quatro presidentes da república, dois daqui (FHC e Lula) e dois de lá: Jaques Chirac e Nicolas Sarkozy.
Um dos impactos positivos que se espera da ponte é o aumento do intercâmbio comercial entre o Amapá e a Guiana Francesa. No ano passado, o Brasil exportou para o departamento ultramarino pouco mais de US$ 10 milhões, a maior parte em artefatos de madeira, dos quais apenas US$ 310 mil (ou 3% do total) foram originados do Amapá. Já com relação às importações, o quadro é bem pior: O Brasil importou menos de US$ 300 mil, nem um centavo do nosso Estado.
Qualquer um que tenha visitado a cidade do Oiapoque sabe que o volume transacionado é várias vezes superior àquele, com um intenso mercado negro na fronteira. Aliás, o Oiapoque é uma cidade na qual se comprova na prática uma teoria monetária: “nos locais onde circulam duas moedas, a mais forte expulsa a mais fraca”, pois no comércio a preferência é clara pelas transações em Euro.
Por tudo isso, a construção da ponte é muito importante para a economia do Amapá, pois deverá ampliar o comércio legal entre os países, além de estimular o turismo, os serviços, etc. Só se espera que a obra não siga os maus exemplos do Aeroporto, Porto de Santana, BR-156 ou estádio do Zerão e consiga cumprir seus prazos sem os lamentáveis, mas costumeiros obstáculos de percurso.
CHARLES CHELALA*
Economista e professor